Hoje falaremos da
bertalha-coração (Anredera cordifolia (Ten.) Steenis), uma
"prima" menos conhecida daquela bertalha (Basella Alba L.) da
qual tratamos em um post anterior. Os nomes popular e científico da planta já
explicam um pouco sobre ela: sua folha tem o formato de coração. Mas essa
planta também é chamada de parra da madeira ou trepadeira da madeira (madeira
vine), inclusive em outros países.
Bertalha-coração (Anredera cordifolia) possui folhas com formato de coração. |
A bertalha-coração é nativa da
América do Sul e pode ser encontrada crescendo espontaneamente em diversas
partes do Brasil. Apesar de ser considerada por muitos como "planta
invasora", esta espécie apresenta interesses ornamental e nutricional.
Devido algumas de suas
características peculiares, há um tempo estávamos com o interesse de
cultivá-la. É perene, possui tubérculos ("bulbilhos" / "batatinhas") aéreos e
subterrâneos, e folhas saborosas que podem ser consumidas cruas ou refogadas,
além da sua beleza que iremos explorar no decorrer do post.
Felizmente, encontramos os nossos
primeiros propágulos em dois municípios do sul do Estado do Espírito Santo
(Divino de São Lourenço e Alegre). A primeira muda originou-se de uma planta
encontrada num terreno baldio em Divino de São Lourenço. Já as demais foram
obtidas de um agricultor familiar no município de Alegre. Curiosamente, este
agricultor nos deu uma informação sobre o uso alimentar desta planta, o que não
esperávamos. Sabíamos que a planta nasce espontaneamente nessa região, mas
jamais havíamos ouvido qualquer relato alimentar ou culinário da planta. Assim,
quando o referido agricultor nos disse que já havia consumido e que sua mãe a
chamava de taioba de cipó, foi como se as nossas informações tivessem se encontrado,
ou seja, tratava-se de fato da bertalha-coração!
Finalidade: planta alimentícia.
Tanto as folhas quanto os bulbilhos são comestíveis. Suas folhas podem ser
consumidas cruas, refogadas ou cozidas. E assim como a oro-pro-nóbis, a
moringa, dentre outras plantas, as folhas podem ser desidratadas e
transformadas em farinha para a fabricação de massas (pães, por exemplo). Da
mesma forma, os bulbilhos podem ser transformados em farinha, ou consumidos
assados, refogados ou cozidos. Além disso, é uma planta que atrai abelhas
(melífera) e possui potencial para o uso medicinal e ornamental.
Aproveita pra conferir a nossa colheita de bulbilhos e inscreva-se no canal:
Propagação: a forma de reprodução mais comum é através dos
bulbilhos. Entretanto, a planta pode ser propagada através de estacas, que são
enraizadas facilmente. Pela a nossa experiência, conseguimos obter mudas usando
os dois métodos.
Bulbilhos de bertalha-coração brotando. |
Bulbilhos: própagulos de bertalha-coração. |
Como ainda morávamos em
apartamento, o primeiro propágulo que obtivemos colocamos para enraizar em um
vaso. Depois que mudamos para uma casa, a planta, que já estava bem
desenvolvida, foi transplantada para o nosso quintal. Os demais propágulos
foram plantados diretamente no solo. Das duas formas dão certo! Mas seja o
plantio em vaso ou no chão, por ser uma trepadeira, é interessante ancorar a
planta por meio de tutores, arames ou barbantes pregados na parede para os seus
ramos se enrolarem no suporte e serem conduzidos.
A bertalha-coração se desenvolveu
bem, cresceu bastante e deve estar com quase 5 metros de comprimento.
Entretanto, as suas folhas não ficaram tão vistosas. Talvez tenhamos cometido
um pequeno erro: cultivar a planta a pleno sol; ainda mais o sol que impera na
cidade em que moramos! Lendo mais sobre a planta, vimos que ela prefere locais de
meia sombra. Por isso, aos poucos vamos reconduzi-la para um local mais
sombreado. De toda forma, a planta nos presenteou com folhas, bulbilhos e
flores (para os nossos olhos e para as abelhas).
Folhagem da bertalha-coração. |
Botões florais de bertalha-coração. |
Pequenas flores delicadas de bertalha-coração. |
Assista também 'Flores de bertalha-coração':
Após a floração, as folhas vão secando. Mas posteriormente novas brotações surgirão. |
Referências:
KELEN, M. E. B. et al. Plantas
alimentícias não convencionais (PANCs): hortaliças espontâneas e nativas. Porto
Alegre: UFRGS, 2015, 45p.
RANIERI, G. R. et al. Guia
prático sobre PANCs: plantas alimentícias não convencionais. São Paulo:
Instituto Kairós, 2017, 44p.
CASTRO, C. M. Cultivo e propriedades
de plantas alimentícias não convencionais PANC. Pindamonhangaba: APTA - Polo
Regional Vale do Paraíba, 2016, 15p.
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